Wednesday, April 26, 2006

um pouco de maluquice, de excentricidade, de mudança, é saudável e ajuda a manter-nos vivos e felizes

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
não arrisca vestir uma cor nova
e não fala com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o escuro ao invés do claro,
os pontos nos ís a um redemoinho de emoções,
exactamente a que resgata o brilho nos olhos,
o sorriso nos lábios e coração ao tropeços.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto,
para ir atrás de um sonho.

Morre lentamente quem não se permite,
pelo menos uma vez na vida,
ouvir conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, não lê, quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte,
ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem destrói seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
nunca pergunta sobre um assunto que desconhece
e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em suaves porções,
recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior que o simples ar que respiramos.


Pablo Neruda

Wednesday, April 19, 2006

A mulher perfeita

Receita de mulher

As MUITO FEIAS que me perdoem

Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso

Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul como na República Popular Chinesa) Não há meio-têrmo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa côr só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma bôca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que os seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barrôca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal.
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer sùbitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero e eu sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de tôda a criação
inumerável.

Vinicius de Moraes



Sunday, April 09, 2006

Música, realmente algo que nos eleva cada vez mais a um nivel equiparado aos "Deuses"

Music, something that elevates us more and more to "Gods" like level.

"Música é o remédio da mente" "Music is the medicine of the mind." - John Logan (1744-88)

"Como a música é a única línguagem com a contradição de ser, ao mesmo tempo, inteligível e intraduzível, o criador musical ou compositor é um ser comparável aos deuses, e a música o mistério supremo da ciência do Homem." "Since music is the only language with the contradictory attributes of being at once intelligible and untranslatable, the musical creator is a being comparable to the gods, and music the supreme mystery of the science of Man." - Claude Lévi Strauss

"A música está unida ao Homem de forma tão natural que, mesmo que assim desejemos, não podemos libertar-nos dela." "Music is so naturally united with us that we cannot be free from it even if we so desired." - Boethius